Gravura Brasileira

Jacqueline  Aronis

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    Uma poesia peculiar
    Publicada em livro, a tese de doutorado Matéria gráfica: idéia e imagem (Annablume, 2010, 196 páginas), de Jacqueline Aronis, introduz o leitor com suavidade na imagem e no pensamento da gravura e do desenho da artista paulistana. Trata-se de uma jornada marcada pela delicadeza e pela diversidade de procedimentos.
    Logo na abertura da obra, vemos a porta do ateliê da criadora. Somos levados assim a ingressar num portal regido pela extrema cortesia. As gravuras e os desenhos da criadora paulistana se distinguem, em geral, pela economia de recursos. Sua poética não é a do espetáculo que chama a atenção pelo excesso, mas a da precisão.
    O conjunto reunido traz desenhos a bico de pena, caneta e lápis, além de aquarelas e gravuras realizadas em diferentes técnicas. A magia se instaura pela maneira de lidar com certos assuntos sempre dentro da concepção de que a técnica em si mesma não se justifica a não ser que se tenha algo a dizer.
    Curiosamente a matriz dos desenhos e das matrizes de gravura provém, conforme Jacqueline aponta no livro, do universo dos sonhos. Mas não se trata de uma matriz surrealista. Existe um processo de racionalismo e maturidade na construção do material produzido ao longo dos anos.
    Nesse sentido, talvez o que mais impressione seja a série de paisagens. Surgem como imagens de memória e de imaginação mescladas a partir da natureza. Não se realiza uma cópia fotográfica, mas resultados plásticos oriundos de um progressivo conhecer o mundo.
    O sonho e a escrita se mesclam muitas vezes na própria placa da gravura num andamento em que o texto funciona muito mais como um grafismo a compor o espaço. Analogamente, as paisagens que ganham a materialidade no ato da impressão estão muito além de uma referencia concreta.
    Ninhos de pássaro e a imagem de um ser voador, que alude ao mito de Ícaro, constituem uma jornada em que o tirar os pés do chão se faz onipresente. Ambos se unem num pensamento plástico que tem a linha como um elemento unificador e de encontro do pensamento.
    Se o ninho é o registro material da imaterialidade do vôo do pássaro, o anjo que se desprende do solo constitui a expressão visual da sua transcendência.  As duas criações têm como elemento a nos conquistar o mistério. Elas se complementam pela ausência.
    Falta ao ninho, que abriga o ser que voa, o dom de voar, e o ser voador, solto no espaço, não tem uma base que nos alerte de que está a conquistar os ares. É nessa mescla de referencias que se articula pela beleza da imagem em si mesma que o procedimento construtivo de Jacquelime Aronis fascina.
    Entre sonhos, ninhos, cores, paisagens, alfabetos pessoais, animais, experimentações gráficas e imagens do espaço, a artista ergue um templo visual nada pretensioso. O sagrado está no comportamento criativo, que permite a expressão de um universo pessoal com pleno vigor.
    Quando a porta do ateliê se abre, inaugura-se um pensar que se manifesta no desenho e na gravura. A construção de um próprio alfabeto visual faz com que os pássaros voem e seres humanos alados atinjam o infinito. Muito mais do que uma seleção de imagens, o que temos pela frente é uma trajetória existencial com sua peculiar poesia.

Oscar D’Ambrosio, doutorando em Educação, Arte e História da Cultura na Universidade Mackenzie, é mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp. Integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA-Seção Brasil).


 

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