Gravura Brasileira

Regina Carmona

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Obras

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Regina Carmona, Corpo e Anima Mundi

Curadoria Gaia Bindi (Prof. Dra. Academia de Belas Artes de Carrara, Itália)

Regina Carmona é uma artista brasileira, que tem no sangue origens italiana e espanhola. Também por isso o mundo é a sua casa e se sente em casa no mundo, onde quer que se encontre. Traz consigo um amplo sentido de comunidade e pertencimento, uma sensibilidade pelos lugares que é feita de empatia e respeito. "O mundo é terra de todos – diz Regina - espaço e lugar para ser e estar, ser incluso, acolher e ser acolhido”. O mundo é para todos uma grande ocasião de encontro e partilha, não apenas como humanos entre os humanos, mas como elementos naturais, partículas infinitamente pequenas de uma perfeita sabedoria universal. Nasce assim, o testemunho de encontros existenciais, um tema que marca muitos trabalhos desde o final dos anos noventa até hoje, entre eles a atual série Meu Lugar Um Santuário (2015) que retrata a fisionomia pessoal dentro de contextos naturais e sociais cruzados no caminho de uma vida. Um trabalho que guarda registros da evolução física através da interação silenciosa com outras formas de vida. No curso dos anos, os instantes fotográficos auto retratam a artista em parques, templos, reservas naturais, florestas se tornando, sucessivamente, rocha, folha, água, vaca, mobiliário sacro. Trata-se de um longo processo de reconhecimento dos próprios limites, através de uma forma meditativa que tenta superar o conhecimento comum das coisas para atingir àquela ciência do espírito que Rudolf Steiner chama "consciência dos mundos superiores". "O artista deve ver a própria obra como uma foto, uma imagem aberta, não acabada." escrevia Joseph Beuys. Com Meu Lugar Um Santuário, Carmona perturba obstinadamente a própria materialidade em favor dos ritmos e harmonias universais, perseguindo uma mutação que parte da desidentificação para atingir a comunhão total. O físico feminino, com sua criatividade orgânica - cíclica e lunar - sempre tem sido associada ao ritual propiciatório, está no centro do trabalho de Regina Carmona.

 

Enquanto artista multimídia se exprime adotando linguagens frequentemente diversas, mas sempre conjugadas segundo um forte alfabeto visionário e matérico, mágico e poético, individual e social, que narra a identidade feminina partindo de raízes culturais dos rituais de defesa para chegar à mulher contemporânea, por um horizonte figurativo e ideológico, entendida como potência através da qual penetra a vida. Na obra Celeste e Rupestre (2013 - 2015) algumas formas do corpo da artista - delineadas sobre o solo com matérias orgânicas como argila, terra, estrume, pigmentos, palha - compõem uma instalação que evoca a ascendência sacra das pinturas rupestres junto à poesia dos decoupage de Henri Matisse. Com graça e suavidade as figuras femininas se mimetizam na natureza, acolhidas em uma organicidade que se faz espiritual, em uma pesquisa das origens pessoais e coletivas, com uma vontade de reunificação a uma eterna e universal vitalidade cósmica, onde o elemento humano, natural e divino se funde e convive. Existe na obra, também, uma recordação da lenda brasileira de Moema, que decide morrer na praia depois da partida do navio com seu amado português. Assim o trabalho convida a "colocar o coração em espinhos", a ser céu e terra, coração e estômago, amor e dor. Movimenta-se da materialidade da carne, misturada ao húmus e a natureza, a uma força animista, para se elevar do rudimentar à espiritualidade de ontem e de hoje. "Meus trabalhos são lembranças da passagem do tempo, a conexão com o corpo enquanto morada interior, espaço sagrado que exige amor, respeito e alimento", escreve ainda a artista. Nas suas obras o físico feminino assume o componente carnal, tangível, tátil do corpo humano.

 

Alguns trabalhos de fato nascem modelados em látex sobre o próprio busto ou sobre àqueles de amigos. Esses moldes e registros são posteriormente reelaborados com tatuagens, desenhos e costuras. Perde-se assim qualquer sinal de identidade: são ventres, seios, barrigas, orgãos genitais reconduzidos a formas primarias que parecem partes de animais ou cascas de árvores, que lembram peles ou simulacros de práticas mágicas como ritos de união ou de iniciação. As vezes esses moldes aparecem reproduzidos em tecidos leves, como seda e organza, por meio da gravura digital. Em Primitivo (2015) as telas se assemelham a travesseiros e almofadas, macios, compõem um grande painel de parede que acolhe os olhares. Uma maciez que convida a visão ao contato, que cria intimidade, que da vontade de se movimentar em um gesto de encontro. "O homem não é limitado pela superfície de seu presumido corpo", escreve Martin Heidegger em Corpo e Espaço. Ao contrário, a superfície do corpo, a pele de cada um é aquilo que cria o espaço circundante e que se coloca em contato com o mundo: não é confim, mas ponte em direção a outro. Primitivo encarna justamente esse sentido de união, através de uma figuração geradora e generosa, graças a uma estrutura compreendente e acolhedora. Mas sobretudo porque dessa emerge uma profunda alegria de viver, que derruba limites e barreiras para recompor a atávica liberdade de um corpo universal

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